Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Mt 6.21.
Jesus nos ensina que somos dirigidos por aquilo que nos é muito caro. Aquilo que é importante, é aquilo que tem valor para a vida. Neste sentido posso garantir que a lista é muito grande das coisas que julgamos valiosas. Coisas que determinam a nossa preocupação e influenciam o nosso nível de ansiedade são descritas no texto como sendo a comida, a bebida e as vestes – “coisas desta vida”. Mas acredito que essa lista é muito mais extensa.
Por isso vos digo: “Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida”. Mateus 6:25
Como posso saber quais as coisas que me são valiosas e, por conseguinte, determinam o rumo do meu coração?
Quais são os meus tesouros?
Por que é importante responder honestamente a essa pergunta?
Jesus responde: “Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”.
A preocupação de Jesus é saber aonde está o nosso coração e a nossa preocupação é saber onde estão as coisas. Ou seja, enquanto procuro as coisas Ele procura o meu coração. Por isso é tão complicado para Ele responder as nossas orações, porque se Ele não tiver cuidado, poderá nos manter longe dele à medida que nos socorre.
Se você quer saber o quão longe Dele você está, veja o conteúdo das suas orações. Aquilo que antes, era tido como sinônimo de intimidade com Deus (ou seja, vida de oração), pode na verdade, revelar o quão distante Dele eu estou. As minhas orações por mais devotas que sejam, podem, no muito, revelar apenas a minha falta de desejo por Ele e seu Reino.
Geralmente, os conteúdos das orações do povo de Deus tem a ver com: comida, bebida, vestimenta, moradia, saúde e etc.
Jesus diz que esses conteúdos apenas mostram onde o nosso coração está. E para melhor compreensão das nossas necessidades recomendo a leitura do texto: “A pirâmide de maslow – a hierarquia das necessidades”. E se quiser se alimentar com comida de verdade leia o livro: A Ética protestante e o espírito do capitalismo de Max Weber.
Sigamos com o texto…
A célebre frase: “Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida”, está precedida do “Ninguém pode servir a dois senhores… Não podeis servir a Deus e a Mamom.
Mateus 6:24-25.
Para Jesus, a mamonização da vida está no fato de confundir a vida com as coisas. Quando confundimos o essencial com o trivial ou quando confundimos prioridade com necessidade.
Ao ler a história de Israel e Judá, vemos uma geração após outra retrocedendo contra o Senhor. Deus disse a Oséias, “Porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim…” (Os. 11:7). Em hebraico o significado é: “O meu povo tem o hábito de virar as suas costas e abandonar-Me”.
“Virar as costas para Deus”!.
Ironicamente, o povo de Deus apresenta recaída geralmente após épocas de grande benção e prosperidade. Freqüentemente, quando Deus derramava incríveis misericórdias sobre Israel, o povo rapidamente se afastava dEle.
“Como vendo isto, te perdoaria: teus filhos me deixam a mim e juram pelos que não são deuses; depois de eu o ter fartado, adulteraram… porque perfidamente se houveram contra mim, a casa de Israel e a casa de Judá, diz o Senhor” (5:7,11). Aqui o Senhor está dizendo: “Eu os abençoei, os favoreci. E agora eles viraram as suas costas para Mim!” .
Qual o segredo? Por que a bênção nos afasta de Deus?
A questão é a prioridade.
O que é prioritário pra mim?
É prioritário para mim, aquilo que julgo ser necessário para a vida.
“Coisas” nunca deveriam ser conteúdos de oração, pois são garantidos por Jesus que “isso é do agrado do Pai dar”, antes mesmo que lho peçamos.
Ele dar pra passarinhos, raposas e flores sem que estes lhe peçam, pois Deus sabe que precisam.
Mas Deus sabe que a natureza é regida pela lei da inexorabilidade, ou seja, não há como não ser assim. A necessidade dita o sentido e o ritmo das coisas.
O ser humano por sua vez é regido pela lei da contingência, ou seja, o que é poderia ser diferente. Deus sabe que não somos bichos. “A vida é mais do que…, o corpo é mais do que” e assim sucessivamente. Só o homem tem a possibilidade de transcender o imediatismo de suas necessidades, para que dessa forma consiga romper com os limites da bestialidade.
Pensando assim, digo que muitas das nossas orações não passam de tentações feitas a Deus de reduzi-lo a um ídolo de nossas necessidades animalescas. A oração é tentar Deus para que este nos mantenha aprisionados em nós mesmos; quando o seu projeto ideal é que sejamos seres para além de nós com o fim último de que outros sejam abençoados. A oração é tentar a Deus para que Ele seja o mantenedor deste estado demoníaco de vontades imperantes e por isso ensimesmadas, em detrimento do todo harmônico. Por isso, o mundo nunca terá jeito se depender dos cristãos pois somos capazes de tudo, inclusive de usar a Deus para a destruição das relações, relações estas que são a causa de nos manter existindo em conjunto.
Por isso Deus não não responde 99% das orações feitas a Ele, pois se assim o fizesse, já teria condenado o planeta à destruição – A bomba atômica mais piedosa do planeta é a oração. Engana-se quem acha que a oração destrói o reino das trevas, antes, destrói a nós mesmos. Consequentemente, destrói o reino de Deus. Se Deus respondesse ás nossas orações estaria dando um tiro no próprio pé. Só tem um jeito de Deus nos libertar – não respondendo às nossas orações. E só há um jeito de sermos libertos – respondendo às orações de Deus.
E Deus ora?
Eu respondo: Ora sim! oras bolas!
Não é Deus que responde aos meus anseios, mas eu que devo responder aos seus anseios.
Qual é a oração/pedido de Deus enderaçada a nós?
Jesus responde: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6:33
O Reino de Deus e a sua Justiça, esse deveria ser o anseio maior do nosso coração, o Reino de Deus e a sua justiça deveria ser o conteúdo mestre das nossas buscas.
Se é O Reino o conteúdo maior da nossa vida, a oração deixa inevitavelmente de ser conteúdo falado e se transformaria em conteúdo vivido. Orações vividas e não orações faladas. Que por sinal, é o outro grande equívoco da oração. Achar que oração é falar com Deus é o mesmo que condenar o homem a inanição existencial. Por isso que a vida de oração dos cristãos não os levou a lugar algum, a não ser a eles mesmos e por conseguinte, ao terrível sentimento de frustração a que fomos submetidos.
Por anos a fio, fomos ensinados que orar é falar com Deus, Jesus nos ensinou que orar é viver o que Deus fala. Não é você que fala é Deus que fala e você responde com atitudes. Não é Deus que responde às suas orações, mas você que deve responder às suas. A oração muitas vezes não passa de um disfarce piedoso para não viver o óbvio estipulado por Deus. Se o Reino e a sua Justiça é o seu conteúdo, não há o que falar, apenas o que se viver. Sua vida fala do que o seu coração está cheio.
Passarei a mostrar que o reino de Deus é um conteúdo que se vive e não o que se fala. E falarei da idiotização para não dizer a diabolização do cristianismo.
Até o próximo texto.
Tarcísio Oliveira