Ele nos ensina que precisamos eliminar o fosso que há entre o presente e o futuro desejável. Não há um hiato que me separa do amanhã melhor.
Abraão já era velho, de idade bem avançada, e o Senhor em tudo o abençoara. Gn 24.1
“em tudo o abençoara”. Parece uma contradição com o texto que diz:
“Todos estes ainda viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-nas de longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra”. Hebreus 11:13
Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido.
Hebreus 11:39
Para Abraão a vida já era uma bênção. A sua história com todas as suas dificuldades, problemas, crises, provações, tentações, perdas, choros, dramas, tudo, sim, tudo era uma bênção.
Porque no Reino de Deus é assim, ninguém pode ver se não vi -ver. Tem que viver para ver. É do lado de dentro que se enxerga melhor.
Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode Ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”. João 3:3. Ou seja, tem que entrar pra ver. Ninguém enxerga nada do Reino, ninguém compreende nada do Reino, se não entrar no Reino de Deus.
Essa mania nossa de achar que um dia as coisas vão ser melhores. Um dia nós vamos ser felizes. Um dia tudo vai mudar. Um dia eu vou pro céu. um dia eu vou ver o meu Senhor. Como se houvesse uma descontinuidade da história. Essa incapacidade de ver sua própria história como bênção é fruto de uma compreensão errada do agir de Deus.
Morreu crendo sem ter recebido as promessas, mas, vendo-as de longe… Hb 11.1. VENDO-AS de longe. Morreu VENDO porque viveu VIVENDO-AS. Vi-vendo esse é o segredo: Viver pra ver.
Ninguém dá um salto do nada para o tudo. Até aquilo que considerávamos como nada já era algo de Deus construindo em nós a vida. Tudo é manifestação da graça e misericórdia. Temos que enxergar a vida assim. Se não, nos tornaremos pessoas amargas que reclamam de tudo. Reclama do cônjuge; reclama dos filhos; reclama do emprego; reclama do salário; reclama dos amigos, isso porque sempre acha que um dia… um dia… um dia tudo vai ser diferente. Quem não aprende a enxergar o hoje como bênção, não enxergará o amanhã também.
Esse foi o problema dos judeus. Não conseguiam ver continuidade na sua história: Escravidão – Deserto – Terra Prometida.
Morreram no deserto porque não conseguiam ver conexão entre o hoje de sofrimento e o amanhã de glória. A terra prometida era a soma das experiência dos 400 anos de escravidão no Egito + 40 anos de deserto. Não há saltos na vida. Tudo é processual. Tudo faz parte da bênção de Deus em nós. O hoje, por pior que seja, será amanhã currículo de vida.
“Queixou-se o povo” – assim começa o capítulo 11 de Números.
Queixavam-se de sua “sorte” (ARA), de “suas dificuldades” (NVI).
Certamente, o deserto não era um ambiente propício para se armar uma tenda. Todavia, o Senhor não prometeu um teletransporte para Canaã. Era necessário que chegassem lá pelas próprias pernas – isso é a historicidade da bênção. E o Senhor usou essa história como um “processo de disciplina”, uma aprendizagem de virtudes celestiais e esquecimento dos costumes egípcios. Neste sentido o deserto é uma bênção!
No deserto “Todos comeram do mesmo alimento espiritual
e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que OS ACOMPANHAVA, e essa rocha era Cristo”.
1 Coríntios 10:3,4.
Mas eles, infelizmente, não conseguiam enxergar o Cristo que os acompanhava porque não conseguiam fazer conexão entre a bênção futura da terra com o “hoje” do deserto.
Infelizmente não há saltos nem teletransportes na vida. Eles eram abençoados e não sabiam, exatamente porque achavam que um dia seriam abençoados.
Precisamos aprender com abraão a olhar a vida com gratidão. Olhar as dores, as perdas, os sofrimentos, as chegadas, as partidas, os nascimentos, as mortes, como a história bênção sendo construída em nós.
E não se queixem, como alguns deles se queixaram — e foram mortos pelo anjo destruidor.
1 Coríntios 10:10
Nele,
Tarcísio Oliveira
