“que ninguém pense a meu respeito mais do que em mim vê ou de mim ouve”. 2 Coríntios 12:6
Esse é um texto que fala de honestidade com a sua identidade. Ser honesto com aquilo que realmente somos. Ser honesto com você mesmo. Portanto, é um texto que fala de relacionamento com pessoas. É um texto que expressa muito bem a briga interna que temos que travar quase que diariamente conosco mesmo para não ser um ladrão da nossa própria história. É a briga diária para não transformar relacionamentos em frentes de batalhas.
“É necessário que eu continue a gloriar-me com isso. Ainda que eu não ganhe nada com isso…”. 2 Coríntios 12:1
O contexto dessa passagem fala do não reconhecimento do apostolado de Paulo por parte da igreja de corinto. A comunidade estava dividida e parte dela não o credenciava ao ministério. E isso o deixava profundamente angustiado e tentado a desviar os objetivos dos seus conteúdos de pregações para defesa de sua própria reputação. Eis a grande tentação á qual estava submetido o apóstolo. O contexto, portanto, é a rejeição com que o apóstolo precisa lidar. Com quais mecanismos o apóstolo se valerá para resolver essa questão?
Toda rejeição é um convite que se faz a um duelo. É um desafio para um embate. Assim estava o apóstolo envolvido num intricado dilema com sua amada igreja.
Por muito pouco seus pés não escorregaram na tentação do embate. Ele diz que “se é pra ser louco, então o serei”. Se for para me reconhecerem passarei a falar de mim mesmo. Falarei do meu histórico de vida, das minhas experiências, dos milagres, de tudo o que fiz em nome de Deus e por Deus para ver se de alguma forma seja reconhecido como alguma coisa.
“… passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado ao terceiro céu. Se foi no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe. E sei que esse homem — se no corpo ou fora do corpo, não sei, mas Deus o sabe — foi arrebatado ao paraíso e ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido falar.
[…] Mesmo que eu preferisse gloriar-me não seria insensato, porque estaria falando a verdade. Evito fazer isso para que ninguém pense a meu respeito mais do que em mim vê ou de mim ouve. 2 Coríntios 12: 1-46.
Usurpar sua própria experiência é tirá-la do seu contexto genuíno para usá-la para fins outros, que aqui no contexto é a autoafirmação frente a rejeição. No anseio de sermos aceitos, amados, reconhecidos, enxergados, usamos como mecanismo sempre aquilo que fizemos ou vivemos. Aquilo que fazemos de melhor ou aquilo em que somos fortes.
Veja que Paulo está sendo tentado a usar a experiência do terceiro céu como currículo para ser aceito. Isso porque não tem dor pior que a dor da rejeição e do sentimento de inferioridade. O sentimento de desprezo, de falta de consideração, falta de reconhecimento por tudo o que se fez e foi é terrível! É sua história relegada, desprezada, desconsiderada e assim por diante. Mas é justamente aí que mora a tentação. É justamente aí que mora o embate nosso de cada dia. É um embate que começa de forma invisível e se traduz em dores visíveis. Toda briga se resume na tentativa de mostrar para o outro que você é alguém.
Aqui começam as neuras do casamento e de qualquer relacionamento. Geralmente quem ataca é porque está se defendendo. Está tentando chamar atenção da pior forma possível. Todo assassino é sempre um defensor de sua própria história. Todo assassino é um defensor de seu próprio território. É um ardo defensor de sua imagem, do seu eu, dos seus brios, de honra e dignidade.
Daí a tentação de usar Deus, os céus, os dons, os anjos, os títulos, as experiências de vida para mostrar que somos alguma coisa.
“Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar”. 2 Coríntios 12:7
“Para impedir que eu me exaltasse”. Veja que até a experiência com Deus pode nos demonizar e a experiência com o demônio pode nos santificar!!
“foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar, Para impedir que eu me exaltasse 2 Coríntios 12:7” – Santo capeta! Santo tormento!
Qualquer dor ou qualquer tormento que nos desarme e nos lembre de que não passamos de pó é sempre bendito! Aí estamos prontos para a reconciliação e para o perdão.
Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim.
Mas ele me disse: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim.
Não tem porque ficar eternamente tentando provar ao outro o que somos. Não tem porque ficar brigando tentando mostrar que somos fortes, inteligentes, espirituais, ricos, sábios, etc.
Veja o que Paulo aprendeu depois da experiência do capeta no coro dele: “Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte”. 2 Coríntios 12:8-10
Para todo embate de relacionamento nunca há vencedor só perdedor.
Não tem porque usurpar a nossa própria história para usá-la em defesa do nosso ego.
Nele, que sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Filipenses 2:6-8
Tarcísio Oliveira